Mercado de cervejas artesanais cresce e consolida os estados de SC e RS entre os maiores do país
21.08.2023
O mercado de cervejas artesanais tem crescido exponencialmente no Brasil. Há pouco mais de um mês, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou o Anuário da Cerveja 2022 com dados que mostram que o setor cervejeiro cresceu 11,6%, com a abertura de 180 novos estabelecimentos no último ano. Ao todo, o Brasil possui hoje 1.729 cervejarias, enquanto que, em 2021, eram 1.549 empresas registradas.
Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina destacam-se no número de cervejarias, ocupando a segunda e a quarta posição respectivamente. Juntos, os dois estados somam 499 estabelecimentos.
Os dados do Ministério da Agricultura e Pecuária apontam também que o Brasil possui uma cervejaria registrada para cada 123.376 habitantes, com um aumento de 10,4% na densidade cervejeira do país, que, em 2021, era de 137.713 habitantes para cada estabelecimento. Santa Catarina alcança a primeira posição do Brasil com um estabelecimento para cada 34.132 habitantes.
Com base neste cenário de crescimento e expansão do mercado cervejeiro, um grupo de professores do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) e do Programa de Mestrado Profissional em Administração – Gestão, Internacionalização e Logística (PMPGIL) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) decidiu investigar como está estruturada a capacidade de absorção de conhecimento e a busca por inovação nas microcervejarias dos dois estados.
A pesquisa intitulada Capacidade absortiva, ambidestria organizacional e inovação: uma pesquisa em microcervejarias artesanais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina é o tema do terceiro episódio do projeto Minuto da Ciência, conteúdo multiplataforma produzido pela Gerência de Marketing e Comunicação da Univali junto à Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão. O estudo tem o objetivo de mensurar a habilidade das microcervejarias artesanais de absorver e aplicar o conhecimento para se manterem competitivas no mercado, bem como de equilibrar a eficiência operacional e a busca por inovação.
“A pesquisa surgiu quando nós percebemos que tínhamos uma base teórica dentro dos Programas de Pós-Graduação e queríamos confirmar se ela poderia ser aplicada no setor de cervejas artesanais. Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e da Feevale, em Novo Hamburgo, nós identificamos um filão de pesquisa em um setor que não estávamos habituados a trabalhar. Sempre foi mais comum olharmos para startups, ecossistemas de inovação, indústrias ou para o setor de serviços, e, de repente, observamos que esta era uma área pouco explorada e isso foi o impulso que faltava pra submetermos o projeto em um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)", explica o coordenador da pesquisa, professor Carlos Ricardo Rossetto.
A pesquisa, composta por um questionário com mais de 50 tópicos, foi realizada com 156 cervejarias. Os pesquisadores tiverem o apoio da Associação Gaúcha de Microcervejarias (AGM) e da Associação das Microcervejarias Artesanais de Santa Catarina (ACASC) para identificar os estabelecimentos. Aprovada no edital nº 28/2018 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a pesquisa foi adiada em 2020, em razão da pandemia, retomada em 2021 e finalizada em maio de 2023.
Os pesquisadores concluíram que, nos últimos anos, houve um incremento considerável nos tipos de inovações, desde a combinação de diversos elementos nas receitas, rótulos e marcas, até a busca por diferentes sabores e a prospecção de novos mercados. A pesquisa indica ainda que a capacidade absortiva das empresas relaciona-se positivamente com a inovação, o que possibilita que elas utilizem e apliquem o conhecimento obtido no ambiente externo para alavancar a sua capacidade inovativa.
O estudo comprovou também que as tomadas de decisões ambidestras geram inovação e, consequentemente, posicionamento de mercado com produtos, processos e procedimentos administrativos inovadores e adequados à realidade atual. A maioria das empresas avaliadas está localizada em pequenos municípios, onde a sua relevância é destacada como empreendimento gerador de impostos, empregos e fomento da economia local.
“Dentro do processo de absorção de conhecimento o que se destacou é que grande parte das empresas têm uma relação muito forte com alguém que já conhece o mercado e que repassou informações pra encurtar a busca por conhecimento sobre o setor. A maioria das empresas pesquisadas têm duas ou três pessoas envolvidas no negócio, outras são empresas familiares ou até mesmo de amigos que gostam de cerveja e, por serem empreendedores natos, abriram seus negócios. A pesquisa concluiu que a aquisição do conhecimento se dá, fundamentalmente, pelas relações interorganizacionais", afirma Rossetto, e complementa: “É um mercado que tem um grau de inovação bastante interessante. Entretanto, apesar de haver inovação de produto, com toda certeza é possível afirmar que ela aparece muito mais na melhoria dos processos produtivos do que nas outras áreas".
A próxima etapa da pesquisa será a apresentação dos resultados para o setor cervejeiro com o objetivo de auxiliar as empresas a desenvolverem redes que fortaleçam as relações interpessoais e a absorção do conhecimento. Os pesquisadores irão também apresentar os resultados para a comunidade acadêmica internacional por meio da participação em eventos e da publicação de artigos em revistas do ramo.
“Cada vez mais os recursos investidos na pesquisa vão ter que se mostrar úteis para alterar a realidade dos locais de aplicação dos estudos. O mundo empresarial melhora o seu desempenho agregando o mundo acadêmico e a academia não consegue testar o que estuda se não tiver o meio empresarial como laboratório para a ciência. Nós precisamos desses dois mundos e eles, infelizmente, conversam pouco. Esse trabalho em conjunto é fundamental até mesmo para justificar os recursos públicos que a pesquisa recebe e que podem mudar a realidade em praticamente todos os setores para melhor", conclui o professor.
Minuto da Ciência
O Minuto da Ciência tem o objetivo de dar visibilidade aos resultados das pesquisas científicas e das atividades de ensino produzidas pelo corpo docente e discente da Univali, por meio de ações de comunicação com linguagem acessível e facilmente compartilhável pelas plataformas digitais.
O projeto apresenta uma pauta diferente a cada mês e contempla um vídeo publicado no canal da universidade no Youtube, uma matéria na página de notícias no site da Univali, além de conteúdo para as mídias sociais.
O conteúdo está disponível nos canais da Univali no Facebook, Instagram, Youtube, Twitter, Linkedin e em univali.br/notícias.