UNIFEBE confeccionará réplica de roupa utilizada por Anita Garibaldi
24.05.2023
As roupas usadas por Anita Garibaldi e preservadas há mais de 150 anos na reserva técnica do Museu di Stato – Piazzetta Titano de San Marino, na Itália, estão sendo estudadas e serão replicadas pelo Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE). O traje, composto por uma saia e uma véstia, é objeto de uma pesquisa internacional coordenada pela reitora da UNIFEBE, professora Rosemari Glatz, e pela pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura da Instituição, professora Edinéia Pereira da Silva.
“A nova história traz outras possibilidades de estudos, sobretudo acerca da nossa identidade no estado de Santa Catarina. Sabemos que Anita Garibaldi é um ícone internacional. No entanto, há muito a ser descoberto sobre a sua trajetória. Então nós, por estarmos em uma região onde a indústria têxtil faz parte do nosso DNA, com um curso de Design de Moda referência no estado, pretendemos contar um pouco desse universo de Anita, a partir de artefatos têxteis reais. Essas vestes tem uma relação com a nossa identidade e com a nossa expertise, que perpassa pelo universo do vestuário”, explica a reitora.
Em outubro de 2022, professora Edinéia foi à Itália e teve acesso ao traje de Anita. Pela segunda vez na história uma pesquisadora brasileira foi autorizada a manusear a roupa. Na ocasião, a pró-reitora da UNIFEBE analisou as medidas de cada peça para a primeira etapa da pesquisa. Em março de 2023 uma nova etapa do trabalho foi realizada pela reitora da UNIFEBE, que também visitou o Museu em San Marino, durante sua participação no Projeto Anita Fidélis, na Itália. Para garantir que as réplicas reproduzidas pela UNIFEBE sejam fieis, a reitora realizou uma pesquisa minuciosa dos tamanhos dos desenhos do rapport e coletou algumas amostras dos fios do tecido.
De acordo com a professora Edinéia, a partir do momento que a UNIFEBE divulgou a pesquisa no Brasil, outras instituições procuraram a universidade para participar do projeto. Em parceria com o Senai, uma série de estudos foram realizados com os fios da roupa de Anita. O material foi analisado por técnicos em um dos laboratórios do Instituto Senai de Tecnologia Têxtil, Vestuário e Design – Lafite. O coordenador da Pós-Graduação MBA em Gestão da Cadeia Têxtil da UNIFEBE e engenheiro têxtil, Wallace Nóbrega Lopo, destaca que com as informações obtidas a partir do estudo técnico de fios e fibras, constatou-se que as roupas foram confeccionadas em seda pura.
A empresa brusquense RenauxView se colocou à disposição para desenvolver o tecido. Para testar os acabamentos, três amostras já foram produzidas por uma das maiores fabricantes de tecidos do Brasil. O especialista em têxteis da RenauxView, Nilson José Ebele, enfatiza o quão desafiador e interessante tem sido participar da pesquisa, principalmente, pelas questões técnicas a serem aplicadas, visto que o tecido foi confeccionado em um período que não existiam muitos recursos e tecnologias. “Nós buscamos por matérias primas semelhantes àquelas usadas na época, em torções de fios semelhantes e equipamentos que podem reproduzir aqueles teares antigos. Foi desafiador, mas o resultado está sendo surpreendente. Para nós, RenauxView, é um privilégio trabalhar com a UNIFEBE neste resgate da história de Santa Catarina, a partir da nossa tradição centenária, que é o têxtil”, enaltece Nilson.
Com base nas medidas e no laudo cadavérico elaborado na época, a UNIFEBE está desenvolvendo um manequim, exatamente com os tamanhos de Anita Garibaldi. “Dessa forma, chegaremos o mais próximo do real. Até o final do mês de junho, o tecido deve ficar pronto e uma etapa de produção da réplica deve ser iniciada pela universidade”, afirma Edinéia.
A Pesquisa
O envolvimento da UNIFEBE com a história de Anita iniciou em outubro de 2021, quando a instituição recebeu o plantio da Rosa de Anita, e passou a integrar a rota do projeto internacional Dois Mundos e uma Rosa para Anita. Para ter acesso e poder manusear as peças, a instituição iniciou as tratativas com o Museo di Stato – Piazzetta Titano de San Marino e, em setembro de 2022, recebeu a autorização do Diretor dos Institutos Culturais e do Chefe dos Museus Estaduais.
A partir da pesquisa, as próprias autoridades de San Marino e das cidades do entorno, que preservam a história de Anita, também se engajaram com a iniciativa da UNIFEBE. Desde então, outros artefatos utilizados por ela, preservados em outros museus da mesma região da Itália foram descobertos. Durante sua participação na missão internacional com a CulturAnita, a reitora da UNIFEBE firmou alguns convênios com cidades que compartilham do mesmo objetivo. Uma delas é uma cidade de Ravena, que preserva um par de botas, possivelmente utilizado pela heroína dos dois mundos no Brasil. No Museu de Ravena, a reitora fez as medições da bota, para a partir do tamanho do pé, analisar a estatura de Anita.
“A pesquisa é uma das etapas de um trabalho feito e abraçado por tantos, que como a UNIFEBE, querem manter viva uma referência feminina e histórica do nosso estado. A história nos legitima e nos inspira e é este o nosso objetivo com este trabalho, entender de fato como Anita foi. Esta mulher que, para a época, desconstruiu tantos padrões e deixou rastros por onde passou. Que nas escolas, nossos alunos entendam a importância deste legado. Que eles conheçam, aprendam e se apropriem, pois ela foi uma pessoa real”, enfatiza a reitora da UNIFEBE, professora Rosemari Glatz.
O Traje
O traje que está sendo recriado pela UNIFEBE foi comprovadamente utilizado por Anita, dias antes de sua morte, quando estava em fuga de Roma. A roupa, de acordo com os registros históricos, foi doada por mulheres da cidade de Cetona, na Itália. Em San Marino, onde hoje o artefato está preservado, Anita trocou de roupa e lá o traje ficou. As peças já passaram por análise e restauro de profissionais em Bolonha e possuem muitos indícios de uso. Além disso, a roupa possui elementos incomuns para a época, como bolsa na saia, e modelagem que fogem do comum para época, por exemplo.
“A partir dessa pesquisa queremos recriar algumas réplicas que serão distribuídas para museus do nosso estado. Nosso intuito é que as pessoas tenham mais conhecimento sobre a história, se apropriem de Anita Garibaldi, de uma mulher real, que viveu aqui. Que esse artefato aproxime mais o estudante, as crianças que visitam esses museus e que ele contribua com o processo de ensino-aprendizagem acerca da história de Anita Garibaldi e de Santa Catarina”, complementa a professora Edinéia.
O projeto coordenado pela reitora e pela Professora Edinéia, conta com o envolvimento do engenheiro têxtil e professor da UNIFEBE, Wallace Nóbrega Lopo, Daniel Goulart, professor e especialista em modelagem. A pesquisa está sendo acompanhada pela brasileira e intérprete que vive na Itália, Luciana Silveira, pela professora da UDESC, Mara Rúbia Sant’Anna da UDESC, pelo escritor Adilson Cadorin, do Instituto Cultural Anita Garibaldi, e Andrea Antonioli, do Centro Studi Olim Flaminia, da Itália. Todos profissionais dedicados ao estudo da história e do vestuário.
Pesquisa apresentada em evento científico
A pesquisa desenvolvida pelas representantes da UNIFEBE foi apresentada nesta terça-feira (16), no Rio de Janeiro, no V Seminário Moda: Uma abordagem Museológica, organizado pela Fundação Casa Rui Barbosa e Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. No evento, que visou debater sobre a conservação de acervos de moda enquanto uma atividade científica, buscando uma troca de informações sobre as coleções têxteis que estão sendo muselizadas no País e exterior, a reitora da UNIFEBE e a pró-reitora da Instituição abordaram o tema “Artefatos que contam histórias: o traje de Anita Garibaldi” e expuseram os trabalhos desenvolvidos por meio do Centro de Memória UNIFEBE.